"Ontem à noite, depois da sua partida definitiva,
fui para aquela sala do rés-do-chão que dá para o
parque, fui para ali onde fico sempre no mês
trágico de Junho, esse mês que inaugura o Inverno.
Tinha varrido a casa, limpo tudo como se
fosse antes do meu funeral. Estava tudo limpo de
vida, isento, vazio de sinais, e depois disse para
comigo: vou começar a escrever para me curar da
mentira de um amor que acaba. Tinha lavado as
minhas coisas, quatro coisas, estava tudo limpo, o
meu corpo, o meu cabelo, a minha roupa, e aquilo
que encerrava o todo também, o corpo e a roupa,
estes quatros, esta casa, este parque.
E depois comecei a escrever"
in Textos Secretos, Marguerite Duras
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